segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Reproduzimos matéria retirada do Portal Vermelho onde Coronel que atuou na Ditadura diz que "Tortura era coisa comum"

Vermelho

www.vermelho.org.br

07/11/2010

Acusado de torturar Dilma dá entrevista: “Era uma coisa comum”

Em entrevista ao jornal A Tribuna de Santos o tenente-coronel reformado Maurício Lopes Lima nega que a tenha torturado, mas a própria história que conta o incrimina.

Um apartamento no Bairro das Astúrias, em Guarujá, é a residência de um militar da reserva acusado pela presidente eleita da República, Dilma Rousseff, de ter presenciado sua torturada em 1970. Segundo ela, em depoimento à Justiça Militar, o oficial também chefiou dois outros militares que compareceram ao presídio Tiradentes e a ameaçaram.

Na ocasião, ela perguntou se eles estavam autorizados pelo Poder Judiciário. E recebeu a seguinte resposta: "Você vai ver o que é o juiz lá na Operação Bandeirante" (um dos centros de tortura da ditadura militar).

Não só nesse presídio, como no Dops paulistano (outro órgão dos aparelhos de segurança), Dilma Rousseff sofreu as seguintes torturas: choques elétricos, pau de arara e palmatória. Teve um dente quebrado e, devido a hemorragias graves, foi levada ao Hospital Central do Exército e ao Hospital das Clínicas.

A Tribuna localizou, no Guarujá, o então capitão e hoje tenente-coronel reformado Maurício Lopes Lima. Ele admite a repressão, mas nega ter seviciado qualquer preso, incluída a presidente eleita. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, em abril do ano passado, Dilma afirmou que Lima presenciou as torturas, mas não a agrediu.

O tenente-coronel, de 75 anos, é apontado pelo Ministério Público Federal (MPF), em ação civil pública ajuizada na última quinta-feira, como um dos responsáveis por seis mortes ou desaparecimentos forçados e por tortura a outras 20 em 1969 e1970, no auge da ditadura militar brasileira (1964-1985). Segundo o MPF, o militar foi "chefe de equipe de busca e orientador de interrogatórios" da Operação Bandeirante (Oban) e do DOI/Codi - Departamentos de Operações de Informação dos Centros de Operações de Defesa Interna.

Em quase uma hora de entrevista, o ex-integrante da Oban afirmou ter exercido apenas funções investigativas: "Eu era o chefe da equipe das investigações. Tinha o chefe da equipe do interrogatório", cujo nome não declinou. Nesse departamento, seriam aplicados métodos de tortura para obtenção de informações. "Criminoso só fala em juízo. Mas nós tínhamos uma pressa, porque os outros continuavam. Eram verdadeiras quadrilhas de terroristas".

A Oban foi um grupo composto por militares e civis especializados na caça de organizações que se opunham à ditadura, sob a alegação de que seriam terroristas. Foram raras, contudo, ações violentas contra inocentes cometidas pela esquerda. O terrorismo de Estado e de grupos de extrema direita, este sim, era frequente.

Lima, que ocupou a função entre outubro de 1969 e o primeiro bimestre de 1971, é apontado como "partícipe direto de violências em face de" 16 das 26 vítimas apontadas no documento. Os outros citados pelo MPF são os também militares reformados Homero Cesar Machado, Innocencio Fabricio de Mattos Beltrão (ambos do Exército) e João Thomaz (capitão reformado da Polícia Militar). Se a ação for declarada procedente, os quatro serão responsabilizados por torturas e mortes, terão de indenizar as vítimas (entre elas, Dilma) e suas aposentadorias poderão ser cassadas.

A seguir, trechos da entrevista de Maurício Lopes Lima para A Tribuna.
“Todo terrorista passou a ser torturado"


A Tribuna – Como o sr. ingressou na Operação Bandeirante?
Maurício Lopes Lima – Eu fui designado. Se me recusasse, estaria numa posição muito horrível. Mas,aliás,eu fui porque concordava. Discordo totalmente da luta armada. Eu acho que a luta armada tem de ser feita por profissionais, e não por civis irresponsáveis.(...) Houve um tenente que estava no DOI-Codi e teve que se casar. Como não estava programado, então pegaram o capitão Maurício (referindo-se a si mesmo em terceira pessoa), que estava proposto para transferência para a polícia do Exército, ao lado da minha casa, lá no Ibirapuera (na Capital)... Eu escutava até a corneta de lá... "Já que você vai ser transferido, você está sendo designado pro DOI-Codi, pra Operação Bandeirante". E eu fui, e ocupei inicialmente a posição de chefe de equipe de busca. Então, o que era o chefe de equipe de busca? Nós recebíamos pedidos de busca, vários, escolhíamos aqueles terroristas que tínhamos mais possibilidade de encontrar e encontrávamos o terrorista, ou não o encontrávamos. Como encontrava, não sei, porque às vezes levava tiro, às vezes não levava, então, foi uma coisa totalmente... Na entrada num aparelho (base operacional de supostos terroristas), nós tivemos vários feridos, vários, inclusive, mor tos, no Rio de Janeiro etc.

A Tribuna – Pessoas do Exército morreram nessas ações?
Maurício Lopes Lima – Sim. Nós vamos chegar, então, ao fim da picada, que é a dona Dilma, e é por isso que vocês estão aqui... Com a Dilma aconteceu o seguinte: eu tive três contatos com a Dilma. No primeiro contato, ela foi presa num ponto com, possivelmente, outro integrante (do grupo de guerrilha VAR-Palmares).

A Tribuna – Onde foi isso?
Maurício Lopes Lima – Foi em São Paulo. (...) Este foi o primeiro encontro com a Dilma, ela presa e eu, que já chefiava a parte de investigações. Me perguntaram: "Maurício, nós tamos com um problema, aí, que acho que é do comando nacional da VAR-Palmares, a Dilma. Mas nós não temos fotografia, nós não temos nada. Nem xerox consta"... Xerox, naquelas máquinas... Falei: "Eu vou pegar o dossiê e vou conversar com ela". Então, cheguei, e disse: "Dona Dilma Vana Rousseff Linhares. A senhora é membro do comando nacional da VAR-Palmares"... Aí, comecei a contar a história dela: "Nasceu em tanto, de tanto de tanto...". E disse até o nome do marido, dos amantes, de tudo. Aí, no final, eu acho que ela viu que não tinha jeito, que nós íamos identificá-la. Como ela era de Minas (Gerais), nós íamos mandar a identificação pra Minas e, no final, ela disse: "Tá bem, eu sou a Dilma, e tudo...". Eu disse: "Tá bem. Fecha a porta. Ela já reconheceu que não era o que tava na carteira de identidade, carteira falsa". Aí, o pessoal foi conversar com ela. Pronto: foi meu primeiro contato. O segundo contato foi quando ela resolveu entregar alguém. Então, ela saiu comigo e nós fomos dar um passeio. Nós fomos a um local onde funcionava uma fábrica de bombas que, um pouquinho antes, tinha explodido, levando até a mão de uma das terroristas... (...) Eu não tive mais contato com a Dilma. Fui encontrá-la na auditoria militar, em 1970, porque o processo foi julgado e ela foi condenada. Fui uma das testemunhas de acusação. E, assim, cessou meu contato com ela.

A Tribuna – O sr. deve ter lido o depoimento dela (na auditoria), em que ela não o considerava testemunha porque o sr. "foi um dos torturadores da Organização Bandeirante".
Maurício Lopes Lima – Não. Eu não sei de onde vem. Ela mesma reconheceu que eu não a torturei... (Levanta-se e traz recorte do jornal Folha de S. Paulo, onde consta que o "capitão [posto que Lima ocupava em 1970] presenciou sessões, mas não a agrediu"). Eu não presenciei. Eu nego. Eu não sei onde arranjaram.

A Tribuna – Estou vendo, aqui, um parágrafo da entrevista que a Folha fez no ano passado: "Dilma afirmou que Lima presenciou as torturas, mas não realizou pessoalmente nenhuma agressão contra ela".
Maurício Lopes Lima – Então, já começa a haver conflito. Se, de um lado, eu sou torturador, não torturei por quê? Porque ela era bonita? Ela era horrível (ri). Hoje, a Dilma é muito mais bonita.

A Tribuna – O sr. disse que foi destacado...
Maurício Lopes Lima – Fui designado para a Operação Bandeirante. Foi uma coisa interna.

A Tribuna – Não era uma função de chefia, de comando?
Maurício Lopes Lima – Não, eu substituí outro que já estava.

A Tribuna – Mas essa sua substituição, mesmo o sr. dizendo não ter agido diretamente em sessões de tortura, no caso de Dilma, não poderia torná-lo também responsável, de forma solidária, pelo fato de exercer função de comando?
Maurício Lopes Lima – É aquele negócio: nós estávamos numa guerra; eu estava de um lado. Lógico que eu sou contrário ao outro lado. Agora, é uma coisa, também, que repórter não entende: o que é segurança? Em assuntos de segurança, quanto menos você sabe, menos responsável você é. Então, nós éramos setorizados. Não é que eu não pudesse saber: eu não queria saber. Eu não vou... Quanto menos eu soubesse, menos responsável eu seria, pelo sigilo.

A Tribuna – De certa forma, não sabia de tudo?
Maurício Lopes Lima – Quase não sabia. E, principalmente... Ela (Dilma) tem uma outra alegação: que foram dois elementos da minha equipe no presídio Bandeirantes (na verdade, Tiradentes) ameaçá-la. Nunca nenhum dos meus elementos da equipe cumpriu uma ordem que eu não determinasse. Eu estava à testa de tudo. E eu não determinei e eles não fizeram.

A Tribuna – Agora, quanto a interrogatórios mais duros, em sessões de tortura...
Maurício Lopes Lima – Tortura. Pode ter havido tor- tura de ambos os lados. Eu sou uma testemunha da tortura. Sim, eu sou. Eu comandei a equipe que desenterrou o capitão Mendes (Alberto Mendes Júnior, da Polícia Militar, morto em 10 de maio de 1970 em Sete Barras, no Vale do Ribeira, durante perseguição ao ex-capitão do Exército Carlos Lamarca) em Registro, e ele foi morto sob tortura. Lamarca e mais cinco julgaram o capitão Mendes e o condenaram no justiçamento. O Brasil passou a ter pena de morte.

A Tribuna – Conforme convenções internacionais, o crime de tortura, independentemente do lado, é imprescritível e, mesmo havendo, como no Brasil, a Lei da Anistia, se entende que pode haver a obrigatoriedade de sanções a quem participou disso.
Maurício Lopes Lima – Não, não aceito. Não aceito porque a tortura, no Brasil, era uma coisa comum.

A Tribuna – Dos dois lados?
Maurício Lopes Lima – Não, da polícia nossa. Era uma coisa normal. Sua empregada roubou, você a levava lá à delegacia, aí o delegado já (dizia): "Pode deixar que a gente vai dar um pau nela". Dali a um pouquinho, ela voltava. Pegou um dinheiro, emprestou pra fulano de tal, tá em tal lugar... Então, é comum, em todas as delegacias do Brasil. Então, esse negócio de dizer que tortura... Todo terrorista passou a ser torturado. Todo. Não tem exceção.

A Tribuna – O sr. nunca chegou a participar diretamente de sessões de tortura?
Maurício Lopes Lima – Não, não, não, não. Dentro do setor de investigações, são investigações. Agora, quando você fala em depoimentos, é outra coisa. Aí, eu caio fora...

A Tribuna – O sr. votou nesta eleição (não era obrigado, por ter mais de 70 anos)?
Maurício Lopes Lima – Votei,o voto é secreto (risos). Eu poderia dizer que votei na Dilma, e aí, "ótimo, tá vendo, Dilma? O Maurício é bonzinho e votou em você, tá?". Poderia dizer que votei no (José) Serra, que é uma péssima escolha, mas eu poderia votar nele também.

A Tribuna – Particularmente para o sr., como foi lidar com a família naquele período?
Maurício Lopes Lima – Lidar com a família foi um pouco difícil. Depois que houve a Anistia, a minha família foi punida.

A Tribuna – De que maneira?
Maurício Lopes Lima – Funções. A minha ex-esposa (historiadora) perdeu o cargo (num programa na TV Cultura) e foi tirada de lado porque era esposa de militar. O que dizer para a minha esposa? Antes eu mandava, agora não mando mais. Então, fica difícil explicar as coisas.

Por Rafael Motta, no jornal A Tribuna de Santos

5ª MOSTRA CINEMA E DIREITOS HUMANOS NA AMÉRICA DO SUL

5ª MOSTRA CINEMA E DIREITOS HUMANOS NA AMÉRICA DO SUL

CURITIBA RECEBE A 5ª MOSTRA CINEMA E DIREITOS HUMANOS

*Evento de abertura acontece no dia 17 de novembro, quarta-feira, às 19h na Cinemateca de Curitiba com a exibição do mais novo trabalho do argentino Pablo Trapero, o longa-metragem ABUTRES, estrelado por Ricardo Darín que é o homenageado da Mostra em 2010*


*exibições gratuitas acontecem de 17 a 23 de novembro em Curitiba*

*programação reúne 41 filmes, representando dez países da América do Sul*

*acessibilidade garantida em sessões com audiodescrição e closed caption*

*“Direito à Memória e à Verdade” é o tema da Retrospectiva Histórica, reunindo clássicos como “A Batalha do Chile”, “A História Oficial” e “Pra Frente Brasil”*

*Este ano a Mostra homenageia o ator argentino Ricardo Darín, que vem ao Brasil participar do evento*

CREDENCIAMENTO DE IMPRENSA

Abertura da 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos

Dia 17/11, quarta-feira, às 19h na Cinemateca

Enviar nomes para daniele@procultura.com.br ou flavia@procultura.com.br


Curitiba recebe a 5ª edição da Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul que em 2010 chega a 20 capitais, quatro a mais que na edição anterior. A programação acontece entre os dias 17 e 23 de novembro na Cinemateca com entrada gratuita. No evento de abertura, marcada para às 19h, haverá a exibição do mais novo filme do argentino Pablo Trapero, o longa-metragem ABUTRES, estrelado por Ricardo Darín, que é o homenageado este ano. O filme se passa n
a Argentina e conta a história dos “caranchos”, advogados que procuram as vítimas de trânsito para tirar a maior indenização possível das seguradoras e ficar com uma gorda comissão. Segundo as estatísticas, mais de 8 mil pessoas morrem em acidentes de trânsito no país. Um advogado especialista em lucrar com esse mercado passa a repensar seu trabalho quando se apaixona por uma jovem médica que cuida dos feridos em acidentes. Ela não aceita que ele continue nesse trabalho; em nome dela, ele tentará tomar outro rumo. Como na máfia, porém, há toda uma organização por trás, e eles não conseguem sair de uma espiral de violência. A programação inclui a Retrospectiva Histórica Direito à Memória e à Verdade, reunindo alguns títulos clássicos da cinematografia sul-americana e uma mostra Contemporânea, que exibe diversas obras premiadas internacionalmente e inéditas no país.


Com entrada gratuita em todas as sessões, a 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul exibe, a partir de 8 de novembro, 41 títulos em 20 capitais brasileiras: Aracaju (10-16/12), Belém (25-28/11 e 2-5/12), Belo Horizonte (13-19/12), Brasília (16-23/11), Cuiabá (10-18/11), Curitiba (17-23/11), Fortaleza (8-14/11), Goiânia (3-9/12), João Pessoa (11-18/11), Maceió (29/11-9/12), Manaus (29/11-5/12), Natal (18-25/11), Porto Alegre (23-28/11), Recife (6-12/12), Rio Branco (6-12/12), Rio de Janeiro (30/11-5/12), Salvador (3-9/12), São Luís (29/11-5/12), São Paulo (19-25/11) e Teresina (11-17/11).


No total, estão representados nesta quinta edição da Mostra dez países da América do Sul: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.


Realizado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, com produção da Cinemateca Brasileira e patrocínio da Petrobras através da Lei Rouanet, o evento é dedicado a obras que abordam questões referentes aos Direitos Humanos, produzidas recentemente nos países sul-americanos. Entre outros, estão presentes na programação temas como o direito à terra,
ao trabalho, à inclusão social, à diversidade étnica, à diversidade religiosa, à solidariedade intergeracional da cidadania LGBT, o direito à memória e à verdade, direitos dos povos indígenas, das pessoas com deficiência, da pessoa idosa, da criança e do adolescente, da população carcerária, da população afrodescendente e dos refugiados.

Em todas as cidades acontecem sessões com audiodescrição e closed caption, garantindo o acesso a pessoas com deficiência visual e ou auditiva.


A 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul conta com apoio do Ministério das Relações Exteriores, da TV Brasil e da Sociedade Amigos da Cinemateca. As obras mais votadas pelo público são contempladas com o Prêmio Aquisição TV Brasil nas categorias longa, média e curta-metragem. A programação tem curadoria do cineasta e curador Francisco Cesar Filho. Mais informações podem ser acessadas no site www.cinedireitoshumanos.org.br.

Homenagem a Ricardo Darín


Entre os destaques desta 5ª edição da Mostra, está a homenagem ao ator Ricardo Darín, um dos mais populares atores da televisão e do cinema argentino, consagrado com o sucesso popular do longa-metragem “O Filho da Noiva” (de Juan José Campanella, 2001). Incluída na programação, a obra, sobre um homem em crise que tenta reconstruir seu passado, foi indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro.


Ricardo Darín comparece ao evento e apresenta a sessão em São Paulo do longa inédito comercialmente no Brasil "Abutres", obra lançada no Festival de Cannes de 2010 e dirigida pelo cineasta argentino Pablo Trapero. No filme, Darín vive um advogado em busca de vítimas de acidentes de trânsito para tirar a maior indenização possível das seguradoras e ficar com uma gorda comissão.


Co-estrelado por Cecília Roth e também indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, “Kamchatka” é dirigido por Marcelo Piñeyro (2002) e aborda as lembranças de uma criança durante a ditadura argentina da década de 1970, na qual sua família é obrigada a esconder-se para não ser presa.

Completa a homenagem o vencedor da Semana da Crítica do Festival de Cannes “XXY” (2006), de Lúcia Puenzo (filha de Luís Puenzo, diretor de “A História Oficial”, título presente na Retrospectiva Histórica da Mostra). O enredo conta a história de um adolescente intersexual que, devido a uma doença genética, apresenta características de ambos os sexos.


Retrospectiva Histórica – Direito à Memória e à Verdade

“Direito à Memória e à Verdade” é o mote para a Retrospectiva Histórica desta edição do evento, reunindo títulos que retratam fatos e consequências de ditaduras militares que assolaram a América do Sul em décadas recentes.


Uma das únicas produções latino-americanas a conquistar o Oscar de melhor filme estrangeiro e considerado o filme argentino mais premiado de todos os tempos, “A História Oficial” (de Luís Puenzo, 1985) tem como protagonista uma professora de história com a suspeita de que a menina que adotou seja filha de uma desaparecida política, vítima da repressão militar. Considerada como a melhor atriz do Festival de Cannes por seu trabalho como protagonista do longa, Norma Aleandro está também no elenco de “Andrés Não Quer Dormir a Sesta”, da seção Contemporâneos, e ainda em “O Filho da Noiva”, da Homenagem a Ricardo Darín.


Estrelado por Reginaldo Farias e Antônio Fagundes, o brasileiro “Pra Frente, Brasil” (Roberto Farias, 1982) teve sua exibição inicialmente censurada, sendo liberado posteriormente. Seu enredo se passa à época dos chamados anos de chumbo. Enquanto a Seleção Brasileira de Futebol conquistava a Copa do Mundo sediada no México, prisioneiros políticos eram torturados por agentes da repressão oficial e inocentes acabavam vítimas dessa violência.


Considerado um dos melhores e mais completos documentários latino-americanos, “A Batalha do Chile” é o resultado de seis anos de trabalho do cineasta Patricio Guzmán. A 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul exibe a segunda das três partes da obra, intitulada “O Golpe de Estado” (1977), no qual são documentados com detalhes todos os momentos que antecederam a derrubada do presidente Salvador Allende.


Exibido em Berlim, vencedor do prêmio da crítica em Guadalajara e do prêmio do público no Festival do Rio, o brasileiro “O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias” (Cao Hamburger, 2006) se passa em plena ditadura militar brasileira, quando um garoto de 12 anos é separado dos pais e obrigado a se adaptar a uma “estranha” e divertida comunidade. No elenco, estão Caio Blat, Paulo Autran e Simone Spoladore.


O caso de tortura e morte do jornalista Vladimir Herzog, assassinado numa cela do DOI-Codi em São Paulo, é investigado em “Vlado – 30 Anos Depois”, longa realizado em 2005 por João Batista de Andrade. Símbolo da luta pela democracia, a morte de Herzog causou impacto na ditadura militar brasileira e na sociedade da época, marcando o início de um processo pela democratização do país.


Em 7 de setembro de 1969, um avião da Força Aérea Brasileira levou ao México quinze presos políticos que foram trocados pelo embaixador dos Estados Unidos no Brasil ,Charles Burke, em um dos episódios mais tensos da história recente do país. No longa “Hércules 56” (Sílvio Da-Rin, 2006), os nove remanescentes do grupo e cinco membros das organizações responsáveis pelo sequestro rememoram a ação e discutem a luta armada contra a ditadura militar.

Contemporâneos

A seção traz obras assinadas pelos brasileiros Tata Amaral (com o curta “Carnaval dos Deuses”, parte do longa internacional de episódios ainda inédito “Then and Now - Beyond Borders and Differences”) e Evaldo Mocarzel (“Cinema de Guerrilha”, sobre jovens realizadores audiovisuais moradores de periferia), além de várias produções inéditas no Brasil.


Exibido pela primeira vez no Brasil, o argentino “Imagem Final” (de Andrés Habegger), apresenta uma reveladora investigação sobre a morte do fotojornalista Leonardo Henrichsen que, em Santiago do Chile nas movimentações pré-golpe de Estado de junho de 1973, filma sua própria morte, em uma das imagens mais famosas da História. Decorridos 33 anos, um jornalista chileno descobre a identidade do homem que o matou.


Também inédito é “Rosita Não Se Desloca” – de Alessandro Acito e Leonardo Valderrama --, produção colombiana sobre uma pequena agricultora indígena da Colômbia, personagem das ruas de Bogotá, uma das mais de três mil pessoas expulsas de suas terras (denominadas “desplazadas”), seja pelas FARC, seja pelo exército do governo ou ainda pelas forças paramilitares.


Outro lançamento no país é o paraguaio “108”, de Renate Costa, no qual a diretora, na busca pelos rastros da vida de seu tio, descobre que na década de 1980 (quando o Paraguai vivia sob ditadura comandada pelo general Alfredo Stroessner), ele teria sido incluído em uma das “108 listas de homossexuais”, preso e torturado. O filme teve sua estreia mundial este ano no Festival de Berlim e foi premiado no BAFICI, o Festival de Cinema Independente de Buenos Aires.

Uma das responsáveis por um rumoroso caso de duplo homicídio, que a levou à detenção por 26 anos e que inspirou um dos capítulos da popular série de televisão argentina “Mulheres Assassinas”, Cláudia Sobrero é acompanhada, ao sair da prisão, pelas câmeras do diretor Marcel Gonnet Wainmayer. Longa inédito no Brasil, “Cláudia” acompanha a reconstrução de seus laços familiares, sua relação amorosa e sua presença cotidiana na cidade.


A lista de filmes Contemporâneos desta edição da 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos inclui ainda a produção argentina “Andrés Não Quer Dormir a Sesta”, vencedora do prêmio do público no Festival de Montreal e de tripla premiação no Festival de Trieste. Passado nos anos 1970 e estrelado por Norma Aleandro (de “A História Oficial” e “O Filho da Noiva”), o filme acompanha um garoto que passa a residir em um bairro onde funciona um centro de detenção clandestino.


Eleito melhor longa-metragem documental no Festival de Paulínia deste ano, “Leite e Ferro”, de Claudia Priscilla, traça um retrato da vivência da maternidade em uma situação limite, abordando amamentação, sexualidade, drogas e religião no cárcere.

Questões relativas à maternidade também estão no centro da narrativa do curta-metragem chileno “Maribel”, de Yerko Ravlic, passado em bairros populares de Valparaíso.

Jovens amigos moradores de um bairro de marginalizados localizado nos arredores da cidade de Lima conduzem a narrativa do longa peruano “Paraíso” (de Héctor Gálvez), realizado em coprodução com Alemanha e Espanha. Eles passam os dias sem saída, sem oportunidades nem futuro, mas com a sensação de que têm que fazer alguma coisa.


A morte sob tortura do operário comunista Manoel Fiel Filho por agentes da repressão, em 1976, nos porões do DOI-Codi em São Paulo, é a base do longa “Perdão, Mister Fiel”, de Jorge Oliveira, que discute a intervenção dos Estados Unidos nos países da América do Sul, nas décadas de 1970 e 1980, e a caça impiedosa aos comunistas pela “Operação Condor”, idealizada pela CIA e adotada pelos regimes militares do Cone Sul.

Efeitos de ditaduras militares no Cone Sul também estão em foco na coprodução de Uruguai e Brasil “A Verdade Soterrada”, de Miguel Vassy. Em busca da verdade, o filme resgata os testemunhos das vítimas do terrorismo de Estado e revela que, hoje, a sociedade uruguaia encara de que forma se deve desenterrar esse passado e promover a justiça.


“O Quarto de Leo”, de Enrique Buchichio, é uma coprodução do Uruguai e Argentina que focaliza o reencontro de um jovem em pleno processo de autoaceitação e definição sexual com uma ex-colega de quem gostava quando eram crianças. Este reencontro casual terá repercussões nos conflitos de cada um, sem que nenhum deles saiba realmente o que acontece com o outro.

Sucesso em festivais, “Eu Não Quero Voltar Sozinho”, curta do brasileiro Daniel Ribeiro, tem como protagonista um adolescente cego, cuja vida muda completamente com a chegada de um novo aluno em sua escola, obrigando-o a entender os sentimentos despertados pelo novo amigo.

Um dos curtas-metragens brasileiros de maior repercussão da última safra, "Bailão", de Marcelo Caetano, trata da memória de uma geração, tendo por cenário um baile gay que se realiza há décadas no centro da cidade de São Paulo. A obra foi vencedora do festival Cine PE, de Recife, e recebeu convites para eventos na América Latina e Europa.

O tema da imigração está no centro da coprodução entre a Argentina e o Equador “Defensa 1464”, na qual o diretor David Rubio acompanha história de um grupo de migrantes afro equatorianos que em Buenos Aires repensam e resgatam a história de seus antepassados.

Igualmente são imigrantes os protagonistas do curta brasileiro Vidas Deslocadas”, de João Marcelo Gomes, que retrata a vida de um casal palestino reassentado no Brasil em 2007, após quatro anos vivendo em um campo de refugiados entre Iraque e Jordânia.

Recebido como uma experiência musical sobre a superação e o amor, o Road movie argentino “Mundo Alas” (de Alas León Gieco, Fernando Molnar e Sebastián Schindel), é uma viagem iniciática de um grupo de jovens artistas – todos portadores de necessidades especiais - que mostra sua trajetória durante uma turnê de contagiantes apresentações que combinam música, dança e pintura.

Por sua vez, o recém-finalizado curta-metragem brasileiro “Aloha”, de Paula Luana Maia e Nildo Ferreira, conta a história de personagens com deficiência física que, através do surfe, encontraram a superação para os desafios de suas vidas.

Uma coprodução entre Bolívia e Venezuela, “América Tem Alma”, de
Carlos Azpurua, focaliza o Carnaval de Oruro, destacado como a expressão máxima de alegria, diversidade e reconciliação coletiva da Bolívia ao reunir diferente setores que dançam em um coro de vida e morte, no qual – momentaneamente – são eliminados rancores e antigos, rivalidades seculares.

Já em “Juruna, O Espírito da Floresta”, é narrada a história de Mário Juruna, o primeiro índio a eleger-se deputado federal, sendo abordados na obra o pensamento indígena e as formulações existenciais e políticas originais da etnia.

Completam a programação da 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul uma série de curtas-metragens de sucesso no circuito de festivais, como o surpreendente “Meu Companheiro” (Juan Darío Almagro, Argentina), o experimental “Halo” (Martín Klein, Uruguai) e os brasileiros recentes “A Casa dos Mortos” (Debora Diniz), “Carreto” (Marília Hughes e Cláudio Marques), “Avós” (Michael Wahrmann), “Dias de Greve” (Adirley Queirós), “Ensaio de Cinema” (Allan Ribeiro), “Dois Mundos” (Thereza Jessouroun), “Mãos de Outubro” (Vitor Souza Lima) e “Groelândia” (Rafael Figueiredo).

5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul

– 8 de novembro a 15 de dezembro de 2010 –

Realização: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República

Produção: Cinemateca Brasileira

Patrocínio: Petrobras

Mais Informações:

ProCultura

Flávia Miranda (flavia@procultura.com.br)

Daniele Tomadon (daniele@procultura.com.br)

Telefone: (11) 3263.0197

Site: www.cinedireitoshumanos.org.br

www.direitoshumanos.gov.br

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